A importância da autorreflexão na aprendizagem

Artigo escrito por Janet Mizrahi, professora de educação continuada na área de produção textual profissional na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Também é autora no blogue BizCommBuzz.

 

Fui levada ao culto da autorreflexão, aos chutes e pontapés. Para mim era uma perda de tempo permitir que os alunos refletissem sobre o conteúdo do curso. Mas eu tinha um chefe que pregava continuamente a reflexão, a metacognição e a transferência, até que finalmente comecei a ver por quê. Agora, como qualquer convertido, sou um discípulo e incluo a reflexão em quase todas as tarefas porque tenho visto os resultados positivos.

A autorreflexão na aprendizagem significa examinar a maneira como um indivíduo aprende. Isso implica que, sem pensar profundamente sobre como aprendemos, nunca podemos ter o insight necessário para corrigir hábitos ruins e afirmar os bons. Portanto, esse processo cognitivo de autorreflexão não ajuda somente os alunos a melhorar os resultados da aprendizagem, mas também promove a aprendizagem autorregulada, um processo cíclico que envolve o planejamento para completar uma tarefa acadêmica; usar estratégias para monitorar o progresso; avaliar o resultado; e usar esse conhecimento para orientar tarefas futuras.

Uma das coisas que mais gosto da reflexão e aprendizagem autorregulada é que, juntas, elas ajudam a dividir a responsabilidade pela aprendizagem com os alunos. Ao pedir-lhes que pensem no que poderiam ter feito para melhorar sua experiência de aprendizagem, eles são forçados a avaliar por que esperar até o último minuto para escrever um relatório de dez páginas não produzia a nota desejada. Fazer com que os alunos pensem sobre o que e como aprenderam os incentiva a considerar os objetivos de aprendizagem e sua própria parte no desenvolvimento do conhecimento.

Desde que comecei a adotar a reflexão, observei vários resultados positivos:

· Acho que os alunos aceitam meus comentários e críticas sobre seus trabalhos e notas sem reclamar, e acredito que isso está diretamente ligado ao processo de autorreflexão.

· O ato de examinar criticamente seu processo e resultado do trabalho muda o foco da nota para o que eles aprenderam.

· Os alunos geralmente estão mais cientes das imperfeições de seus trabalhos e de que sou sua mentora, e não sua nêmesis.

Não é fácil aos jovens de hoje ouvirem que fizeram algo errado, mas é meu trabalho mostrar a maneira correta de escrever uma proposta ou e-mail de negócio. Antes de usar a reflexão, muitos alunos simplesmente não conseguiam aceitar que seu trabalho não pudesse ser perfeito. Isso definitivamente mudou.

A reflexão, com seu foco inerente no processo de aprendizagem, pode ser mais apropriada no final do semestre, quando naturalmente queremos relembrar os alunos dos objetivos do curso enquanto o avaliam e pensam no que tiraram dele. Nesse ponto do processo de aprendizagem, a reflexão encoraja os alunos a analisar o curso e o que ganharam como um todo. [Incluí algumas das estratégias que uso em sala de aula no final desta postagem.] No entanto, podemos injetar a autorreflexão em nossas salas de aula de várias maneiras, a qualquer hora durante o semestre.

 

Discuta e explique a reflexão

Fale sobre por que a reflexão é importante e como ela transforma os alunos em alunos melhores, não apenas na escola, mas na vida. Repita a importância da reflexão regularmente durante o curso. Você pode até acrescentar um pouco de Sócrates: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida”, certamente não se aplicava aos universitários do século XXI, mas acho que funciona nesse contexto.

 

Passe tarefas reflexivas durante o tempo de aula

Descobri que reservar um tempo da aula para os alunos realizarem reflexões sobre tarefas específicas produz resultados melhores. Quando a tarefa de reflexão é feita em casa, os alunos têm a tendência de escrevê-las com pressa, sem pensar muito. Mas, em sala de aula, todos trabalham na mesma tarefa, e eu fico bisbilhotando para ter certeza de que permanecem focados. Também exijo que os alunos apresentem suas reflexões nas tarefas e, caso não o façam, tiro pontos.

 

Aceite diferentes modalidades de reflexão

Alguns professores deixam a modalidade de reflexão por conta do aluno. Eles aceitam respostas em vídeo ou áudio individuais, em duplas ou grupos de três alunos e permitem que realizem a reflexão em seu próprio ritmo. Como professora de produção textual, faz sentido para mim adotar uma forma escrita para a reflexão dos alunos, mas o modelo que funcionar na sua disciplina e situação de aula é o que deve ser usado. Não existe um jeito errado de fazê-lo.

 

Minha estratégia de sala de aula

Em minhas aulas, forneço dicas e lembretes a ser seguidos pelos os alunos, em vez de permitir um brainstorm livre. Eis abaixo algumas das perguntas que normalmente faço.

· Explique sua experiência ao completar [ao projeto X] e o que você aprendeu sobre como lidar com projetos como esse. Esse apontamento pode estimular os alunos a ver onde erraram.

· O que você pode mudar na maneira como abordou [assunto X] na próxima vez que tiver uma tarefa semelhante? Essa pergunta leva os alunos a pensar sobre como vão mudar o que fizeram para produzir um resultado melhor no futuro.

· O que você sabe sobre [tema X] agora que não sabia antes de realizar a tarefa? A resposta que isso provoca chama a atenção para o ganho líquido do aluno e fornece uma sensação de realização.

· Em quais aspectos da tarefa você gostaria que eu me aprofundasse para poder dar um feedback

melhor? Essa investigação ajuda os alunos a analisar o que eles acham que precisam trabalhar e os torna mais abertos a críticas.

Por fim, a autorreflexão ajuda nossos alunos. Mas também ajuda os professores a ver o que nossos alunos acreditam que aprenderam, uma situação em que todos ganham.

 

Este artigo foi traduzido para o português pela Cengage Brasil. O texto original pode ser lido aqui