A luta pela justiça racial na sala de aula: um educador influencia

É necessário um indivíduo muito forte e confiante para identificar, reconhecer e trabalhar para corrigir um problema que nos obriga a olhar para dentro. Fazer uma autoanálise pode ser desagradável em muitos aspectos. No entanto, esse mesmo desconforto e coragem podem ser o catalisador para um progresso extraordinário e uma transformação inovadora na luta pela justiça racial.

Estamos em um espaço e tempo únicos agora. Embora prefira compartilhar minha perspectiva do ponto de vista da humanidade, o estado atual das coisas se resume às desigualdades raciais que enfrentamos todos os dias.

O grande poeta irlandês William Butler Yeats disse uma vez: “É preciso mais coragem para cavar fundo os cantos sombrios de sua própria alma do que lutar num campo de batalhas”.  

Alguém perguntaria: “O que mais posso fazer para corrigir isso? Que contribuições posso fazer?”

Essa pergunta se mantém viva para muitos de nós. Felizmente para aqueles de nós que têm dedicado a vida para educar outras pessoas para um mundo melhor, é possível promover mudanças poderosas e impactantes.

 

Na luta pela justiça racial é importante olhar para dentro

 

O primeiro passo é tornar-se consciente. O racismo é uma parte profundamente enraizada na nossa sociedade. Tornou-se norma e estamos insensíveis a isso. Essa é uma das razões pela qual ele continua a ser tão difundido – algumas pessoas nem mesmo o reconhecem.

Às vezes, pensamos que sabemos mais do que realmente sabemos. Quando se trata de racismo e luta pela justiça racial, não se pode negligenciar a importância de ser informado. Ler livros e assistir a filmes é apenas o começo da jornada pela justiça racial; é essencial que aprendamos sobre nossos próprios preconceitos implícitos, onde se originaram e como afetam nosso pensamento e comportamento.

 

Tome uma atitude

 

Depois de se tornar mais consciente das injustiças que seus alunos, suas famílias e seus colegas de trabalho negros enfrentam todos os dias, você deve se engajar na luta contra essas injustiças. Isso inclui, mas não se limita, falar sempre que testemunhar casos de racismo. Sempre demonstre seu posicionamento sobre o que é certo.

Uma maneira de começar é abordando e confrontando as diretrizes discriminatórias em sua escola e as que você aplica na sala de aula. Isso pode ser desconfortável e difícil, mas será um recurso valioso quando você der os primeiros passos.

A dor do racismo devastou nosso país durante séculos. Se você viu o impacto em sua própria comunidade, então você viu em sua sala de aula. Como educador, ou qualquer pessoa dentro do ensino superior, existem muitas maneiras de implementar e demonstrar a luta contra a desigualdade racial.

 

Utilize recursos e pesquisas sobre justiça racial

 

Ao pensar na dificuldade que nossos alunos devem enfrentar, penso em W.E.B. Du Bois, que cunhou o conceito de “dupla consciência”, a necessidade pela qual os negros são essencialmente forçados a terem duas identidades ao serem pressionados a enxergar a si mesmos e a enxergar como são percebidos por seus pares não negros. Atualmente, essa psicologia pode criar uma circunstância única para alunos negros, uma psicologia que alguns pesquisadores argumentam que pode até levar a problemas de saúde mental que passam despercebidos.

Muitos confundiram o problema e mudaram o foco para a agressão dos alunos negros. Mas, é aí que reside o problema. Em primeiro lugar, não podemos mais esperar que nossos alunos negros suportem, por meio de resiliência e intelecto, as experiências de racismo e injustiça que nunca deveriam ter enfrentado. Essas soluções muitas vezes contribuem para o desafio ainda maior da saúde mental dos alunos.

Como mencionado anteriormente, na luta por justiça racial, é preciso mais coragem para cavar fundo o abismo da alma. Felizmente, existe literalmente um mundo de informações ao seu alcance para ajudá-lo a primeiro reconhecer e, em seguida, trabalhar para corrigir quaisquer preconceitos inconscientes ou mesmo conscientes que talvez nunca tenha sentido a necessidade de corrigir. Agora temos a oportunidade de ser a mudança que queremos ver para impactar nossos alunos, nossa comunidade e nosso mundo.

 

Lidere pelo exemplo

 

Outra solução como líder e mentor no ensino superior é dar o exemplo. Entre as práticas cruciais para o ensino da liderança está o de trazer o entendimento cultural e a autoconsciência para a sala de aula, o currículo e o trabalho. Desafiar ativamente seus próprios estereótipos e examinar como você tem respondido ao racismo, opressão e injustiça no passado é outra maneira de se autoavaliar e fazer uma mudança para melhor.

Mostre aos alunos o que significa representar o que está dentro e fora da sala de aula. A desconexão leva à rejeição; essa é uma das razões pelas quais o racismo continua a ser tão difundido.

A forma como abordamos o ambiente de aprendizagem e o currículo será e deve ser muito diferente da forma como estamos acostumados. A abordagem do currículo deve ser vista e estabelecida a partir de múltiplas lentes.

Para estar certo disso, agora mais do que nunca, estamos convidando um ambiente e demonstrando inclusão e pertencimento, devemos reconhecer e abordar qualquer coisa que pareça injustiça. Os alunos anseiam por um ambiente onde sejam celebrados, reconhecidos e apoiados. E é esse o ambiente mais propício para o aprendizado.

 

Fale

 

Uma das coisas mais dolorosas que podemos experimentar é o silêncio ensurdecedor dos líderes e mentores que admiramos, enquanto uma cultura inteira está sofrendo. Não importa a circunstância, é inadmissível ignorar quando vemos outras pessoas sendo maltratadas e/ou sofrendo abuso. Como líderes, educadores e mentores, devemos sempre enfrentar e abordar o racismo de todas as formas, o tempo todo.

Ser forçado a defender sozinho o que é certo pode criar uma sensação de isolamento, como se o peso do mundo estivesse nos nossos ombros. Mas, quando temos pessoas que podemos admirar, e as vemos se unindo em atos de solidariedade, isso envia a mensagem muito clara de que nós, como sociedade e como comunidade, não toleraremos o racismo e a discriminação.

Não podemos ficar parados assistindo a essa dinâmica tóxica continuar.

Todos nós devemos dizer e fazer algo.

 

 

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Christal E. Carmichael é professora de psicologia na Universidade Central da Carolina do Norte. Este artigo foi adaptado e traduzido para o português pela Cengage Brasil. O texto original pode ser lido aqui