Como criar uma sala de aula inclusiva para LGBTQIAPN+ e todos os estudantes

Como educadores, queremos garantir a melhor experiência de aprendizagem para todos os estudantes. Sabemos que o estresse prejudica a aprendizagem, por isso pretendemos reduzi-lo em nossas aulas.

Uma maneira de fazer isso é criar uma cultura de sala de aula inclusiva que represente todos os estudantes, especialmente aqueles que se identificam como LGBTQIAPN+. E os princípios usados para criar essa cultura de sala de aula beneficiam todos os alunos, não apenas aqueles com identidades historicamente marginalizadas.

Essa é a beleza de uma sala de aula inclusiva — é um lugar onde os alunos podem se concentrar na aprendizagem, em vez de na superação de barreiras.

O “Curb-Cut Effect” (efeito rampa de acessibilidade)

 

Há um slogan frequentemente repetido na comunidade de design universal: “Necessário para alguns, útil para todos.” Um exemplo disso são as rampas de acessibilidade. Estas são cortes de meio-fio que facilitam subir e descer calçadas. As cidades inicialmente introduziram cortes de meio-fio para tornar as calçadas mais acessíveis para pessoas que usam cadeiras de rodas. Mas agora percebemos que as rampas de acessibilidade são úteis para muito mais pessoas do que o inicialmente esperado. Pessoas que usam carrinhos de bebê, carregam malas e andam de bicicleta as consideram úteis.

Esse fenômeno é conhecido como efeito rampa de acessibilidade (curb-cut effect). Ele descreve quando medidas destinadas a ajudar um grupo beneficiam a todos. É isso que fazemos acontecer com o design de sala de aula inclusiva; criamos um ambiente onde todos os alunos se beneficiam.

Contrato pedagógico

Uma maneira de começar o semestre é convidar os alunos a cocriar um contrato pedagógico ou contrato de sala de aula. O objetivo final aqui deve ser criar uma cultura de classe que facilite a melhor experiência de aprendizagem para todos. Isso define o tom da sala de aula e comunica que o espaço é de comunidade e aprendizagem. Também ajuda os alunos a se sentirem envolvidos e responsáveis pela cultura positiva da sala de aula.

Convide os alunos a fazer um brainstorming e, em seguida, a criar colaborativamente um acordo sobre o tipo de ambiente de aprendizagem que eles gostariam para si e para os outros. Manter o respeito pelas identidades e ideias uns dos outros é crucial para o sucesso desse exercício.

Pronomes

Crie um ambiente no qual os alunos sejam bem-vindos para compartilhar seus pronomes ao se apresentarem. Você pode trabalhar isso compartilhando o pronome que cada um usa ao se apresentar. Fazendo isso, você estabelece que o gênero não é pressuposto e as identidades de gênero são respeitadas. Isso pode ajudar os alunos não apenas a evitar a malgenerização (do inglês misgendering, o ato de designar uma pessoa por um gênero que não corresponde à sua identidade de gênero. Pode ser intencional ou acidental), mas também a saber que são bem-vindos a serem eles mesmos em sala de aula.

Tenha em mente que nem todo mundo pode querer compartilhar seus pronomes, e tudo bem também. Se alguém optar por não compartilhar seu pronome, refira-se ao aluno pelo nome em vez de um pronome de gênero e estabeleça que todos deverão fazer o mesmo. Isso é algo que a classe pode acordar nas regras e combinados da turma.

Diretrizes para um diálogo construtivo

Alguns contratos pedagógicos incluem acordos para estabelecer um diálogo construtivo em sala de aula. Por meio desse exercício, você permite que os alunos se expressem livremente e os faz concordar com determinadas estratégias para conversas em sala de aula. Estratégias úteis incluem como “pegar carona” na ideia de outro colega e como discordar respeitosamente em uma discussão em classe. A sala de aula é um local para investigação acadêmica e desenvolvimento pessoal e profissional, no qual os alunos discutem questões difíceis. Deve ser um espaço no qual todos os alunos sintam-se bem-vindos e possam participar das discussões como eles mesmos.

Abrir espaço e ensinar estratégias sobre como ter um diálogo franco e respeitoso também ajuda os alunos a crescer no mundo fora da sala de aula. Isso os ajuda a se familiarizar com diferentes tipos de pessoas, melhora as habilidades de diálogo construtivo e ajuda os alunos a fazer conexões entre si, e a relacionar suas identidades e interesses com os tópicos discutidos em sala de aula.

Privacidade do aluno

Além de proporcionar um ambiente de sala de aula respeitoso e construtivo, você também tem responsabilidades exclusivas pelo bem-estar de cada aluno. Um exemplo disso é a frequência: os diários de presença utilizados pelos professores geralmente trazem o nome que está escrito na certidão de nascimento dos alunos. Considere esta informação privilegiada e mantenha-a privada. Alguns alunos podem usar um nome diferente do nome civil para refletir seu gênero e eles podem não ter mudado seu registro por vários motivos.

Revelar o “nome-morto” (do inglês deadnaming, o ato de chamar uma pessoa por um nome que ela não usa mais) de um aluno é uma forma de preconceito e assédio moral. Não é apenas desrespeitoso, mas também pode “expor” os alunos, abrindo caminho à importunação. Manter privados os nomes civis dos estudantes também protege aqueles que podem ser sobreviventes de violência doméstica, que podem usar um nome diferente para se protegerem de seus agressores.

Mantenha os diários de presença confidenciais, mesmo se você pedir para os alunos adicionarem apelidos ou nomes preferidos. Evite ler nomes civis em voz alta, compartilhar ou passar uma lista com esses nomes para a classe.

Uma maneira melhor de avaliar a presença é deixar os alunos liderarem o processo:

Em uma aula on-line

Registre a presença a partir dos nomes que os alunos usam na tela e peça para eles para também compartilharem seus nomes em voz alta.

Em uma grande aula presencial

Distribua uma folha de papel em branco e peça aos alunos para escreverem seus nomes nela. Verifique se o diário de presença está correto depois de recebê-lo.

Em uma classe menor

Peça aos alunos para compartilharem seus nomes em voz alta. À medida que os alunos falam seus nomes, encontre correspondências na lista e marque quem está presente. Se alguém tiver um nome que não aparece na lista, converse com essa pessoa em particular para descobrir se ela está usando um nome diferente, se está na classe errada por engano ou se há um erro na lista.

Um benefício adicional e importante de fazer com que os alunos compartilhem seus nomes é que eles compartilhem as pronúncias corretas. Essa abordagem ajuda a pronunciar corretamente o nome dos alunos, o que é fundamental para criar uma cultura de equidade, inclusão e pertencimento em sala de aula.

Representação

Nosso objetivo como professores é preparar os alunos para o sucesso no mundo fora da sala de aula. Para ser bem-sucedido nesse trabalho, o conteúdo do curso precisa refletir com precisão as comunidades representativas dos alunos e o mundo em geral, incluindo indivíduos de diferentes gêneros, orientações sexuais, estruturas familiares, etnias, raças, religiões, habilidades, status socioeconômico, regiões geográficas e culturais, e interseccionalidades.

Para que um espaço de aprendizagem seja inclusivo, a linguagem e os materiais dessa aula devem refletir o mundo de maneira justa e precisa. Pense nos livros e materiais didáticos que você usa em suas aulas.

Eis algumas perguntas para começar:

 

Considere criar uma rubrica (ferramenta de avaliação escolar que tem como função definir e explicitar as expectativas de aprendizagem em relação a uma determinada tarefa por meio de uma tabela a que todos os estudantes têm acesso) a fim de avaliar os materiais que você utilizada para garantir uma representação diversificada. Eis um exemplo de rubrica usado em um departamento em Stanford.

Desenvolvimento profissional

Continuar a aprender e crescer para ser um aliado melhor é um processo contínuo e iterativo. Fazer isso também é uma ótima maneira de criar modelo de eterno aprendiz para seus próprios alunos. Uma maneira de fazer isso é buscar cursos e conteúdos sobre diversidade e inclusão e compartilhar o que você está fazendo para tornar seu espaço de aprendizagem mais inclusivo com os colegas. Juntos, vocês podem aprender uns com os outros e debater maneiras de tornar suas aulas ainda mais inclusivas.

Criar um ambiente de aprendizagem no qual o professor apresente pessoas de todas as identidades e origens com o mesmo respeito e iniciativa é a chave para promover um ambiente de sala de aula no qual os alunos possam demonstrar plenamente sua individualidade. Também ajuda os estudantes a reconhecer o valor de suas próprias experiências e conhecimentos!

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Anne Alexander é especialista no assunto da Cengage US para língua inglesa e sucesso universitário. Artigo adaptado e traduzido pela Cengage Brasil. Texto original pode ser lido aqui.