Preparação para a carreira: como ensinar habilidades, não apenas conteúdo
O desenvolvimento humano envolve a aprendizagem e o crescimento da “pessoa como um todo”, e não apenas a aprendizagem cognitiva. De acordo com a Psychology Today, a adolescência deve se estender até em torno dos 25 anos. O periódico afirma que 25 poderiam ser os novos 18, já que os cérebros humanos ainda estão se desenvolvendo rapidamente no início da idade adulta. Os revisores médicos da Very Well Family concordam: o desenvolvimento emocional, social e cognitivo são áreas-chave de importância na aprendizagem de adultos. Por que então o aprendizado acadêmico se concentra tanto no desempenho intelectual? Quando os alunos chegam aos nossos campi, eles podem ser tecnicamente proficientes, mas são social e emocionalmente inseguros.
Estou no ensino superior há mais de 20 anos e, na minha experiência, as percepções dos alunos, pais e empregadores mudaram ao longo do tempo sobre o que esperam do ensino superior. As normas culturais mudaram e os empregadores esperam que os candidatos com diploma universitário tenham competências de preparação para a carreira. A Associação Nacional de Faculdades e Empregadores (NACE), localizada no Estados Unidos, publicou uma pesquisa Job Outlook 2022 que revela lacunas entre a percepção dos empregadores e a preparação dos alunos nessas áreas de competência.
Preenchendo a lacuna entre a preparação para a faculdade e a carreira
Em vez de esperar que as competências de preparação para a carreira sejam terceirizadas para profissionais de centros de carreira ou programas de integração de empregadores, os educadores podem ajudar a preencher a lacuna entre a sala de aula e a carreira. Como educadores, desenvolvemos relacionamentos com os alunos por períodos de 8 a 15 semanas em cada semestre para criar essas competências nas salas de aula. Qualquer que seja a matéria que ensinamos, podemos ajudar os alunos a desenvolver simultaneamente habilidades intelectuais e habilidades para a vida. A busca pelo conhecimento é importante, mas não sem a aplicação do conhecimento. Ouvimos empregadores que vêm às nossas salas de aula acadêmicas como palestrantes convidados elogiando a importância do trabalho em equipe, da comunicação, do profissionalismo, da tecnologia e da liderança — todas habilidades que os empregadores procuram. No entanto, muitas vezes continuamos a optar pelo ensino de matérias específicas. A realidade é que a maioria dos alunos não consegue “aprender” habilidades de pensamento crítico em um curso que se concentra exclusivamente no conteúdo.
Tratando a sala de aula como um laboratório de aprendizagem
A aprendizagem ao longo da vida não se limita à sala de aula ou ao período plurianual exigido para obter um diploma formal. Os humanos têm um desejo natural de explorar, aprender e crescer, e a realidade é que toda a vida é um laboratório de aprendizagem. Abordo meu tempo de aula com os alunos como um laboratório de aprendizagem e digo-lhes que iremos explorar e experimentar.
Considere modelar o tempo na sala de aula como tempo no trabalho. Deixo os alunos criarem diretrizes operacionais em grupo para definir o profissionalismo e como trabalharemos juntos. Ao fazer isso, os alunos começam a ter uma sensação de controle sobre suas ações e consequências. Isso lhes permite lidar com os alunos que chegam atrasados — ou que apresentam outros comportamentos perturbadores.
Experimente mais
- Crie uma série de atividades síncronas e assíncronas ao longo do semestre. Ao fazer isso, os alunos são incentivados a aprender e participar de várias maneiras, não apenas durante as aulas. Já aconteceu com você de ter dia de folga e no dia seguinte simplesmente não conseguir se concentrar durante uma reunião? Nosso trabalho não é avaliado apenas pelo nosso desempenho em um único período de tempo. É avaliado ao longo do tempo, atingindo vários resultados.
- Dê tempo e espaço para os alunos refletirem sobre as discussões em aula, criando fóruns de discussão no Ambiente de Aprendizagem Virtual (AVA) para continuar o diálogo. Inclua uma rubrica do fórum de discussão ou diretrizes de netiqueta que ajudam os alunos a desenvolver habilidades de comunicação baseadas na atenção e no respeito mútuo.
- Dê mais autonomia aos alunos quando possível. Por exemplo, costumo oferecer aos alunos opções para uma tarefa de meio de semestre: eles podem fazer um artigo, uma apresentação visual ou uma apresentação em vídeo, proporcionando assim mais liberdade criativa quando possível.
- Envolva os alunos em projetos em grupo, o que aumenta a transmissão de conhecimentos e habilidades de um aluno para outro. O pensamento crítico não se desenvolve quando os alunos estão estudando a matéria para passar em uma prova. Envolver os alunos em atividades em grupo ajuda a desenvolver as habilidades de pensamento crítico, resolução de problemas e trabalho em equipe que os empregadores procuram. Sim, eles praticam como lidar com os membros difíceis da equipe, o que é uma ótima preparação para o local de trabalho.
- Use a tecnologia na sala de aula para que os alunos aprendam e desenvolvam proficiências em diferentes plataformas. Existem várias ferramentas de colaboração, grupo e gerenciamento de projetos baseadas em nuvem integradas em Ambientes de Aprendizagem Virtual (AVA) que podemos aproveitar na sala de aula, não apenas em cursos on-line. Costumo usar o aplicativo Bongo para projetos em grupo no qual os alunos definem marcos, dividem responsabilidades, compartilham arquivos e colaboram para alcançar resultados. Durante o horário de aula, ajudo a solucionar problemas de tecnologia quando necessário e eles podem concluir o trabalho de forma assíncrona, cada um no seu tempo.
- Incentive os alunos falarem mais. Sejamos realistas, se tiver oportunidade, muitos alunos vão se esconder no fundo da sala de aula e não comentar. Costumo usar cartões de história e geralmente começo uma aula com 5 minutos de atividade. Peço aos alunos que se levantem e formem duplas com alguém do lado oposto da sala. Cada dupla seleciona um cartão de história com um tema de discussão que lhes dá 5 minutos para conversarem. É incrível como isso faz os alunos se abrirem para discutir os conceitos da aula!
Como quer que chamemos, preparação para o trabalho, profissionalismo, habilidades interpessoais ou habilidades profissionais, o comportamento adulto é aprendido ao longo do tempo e reforçado pela prática. Seja qual for a matéria que ensinamos, podemos incorporar algumas dessas competências para a vida que fornecem ferramentas importantes para o desenvolvimento, tais como pensamento independente, como socializar e fazer novos amigos, e como agir em situações que exigem a aceitação de responsabilidades adultas. Aprendemos com as situações da vida todos os dias, por isso vamos usar as nossas salas de aula para preparar os alunos para o mundo que está além da sala de aula. Não confie em que todos aprendam essas habilidades em casa ou no trabalho. É preciso uma aldeia para criar uma criança e nós, educadores, desempenhamos um papel importante nessa aldeia.
Embora a força de trabalho esteja mudando rapidamente, você pode ensinar aos seus alunos habilidades que os tornarão empregáveis em qualquer mercado.
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Beth Ryan é professora associada de pedagogia do Columbia College Chicago no departamento de Negócios e Empreendedorismo. Artigo adaptado e traduzido pela Cengage Brasil. Texto original pode ser lido aqui.