Ensinando habilidades de sustentabilidade aos alunos

Este ano, o Dia da Sobrecarga da Terra será em 2 de agosto. Este é o dia em que teremos usado todos os recursos que a Terra é capaz de gerar em um ano. De fato, se o mundo inteiro consumisse recursos à taxa dos Estados Unidos, por exemplo, já teríamos chegado a esse ponto em 13 de março. E se fosse à taxa do Brasil, chegaríamos em 12 de agosto.

Você não precisa ser um cientista ou matemático para ver que essa conta não fecha. É, por definição, insustentável. Temos um número finito de recursos e uma demanda aparentemente infinita, e isso está causando danos irreversíveis.

Dias de Sobrecarga em diversos países

O Dia de Sobrecarga de um país é a data em que o Dia de Sobrecarga da Terra cairia se toda a humanidade consumisse como as pessoas daquele país. No Brasil, esse dia será em 12 de agosto de 2023. Fonte: Global Footprint Network – overshootday.org/newsroom/country-overshoot-days

É, sem dúvida, o maior desafio de nossa era — como deter e, idealmente, reverter o enorme impacto que as ações humanas têm causado no meio ambiente. E a educação é a linha de frente dessa luta. Por quê? Porque é muito urgente não ser, e é a próxima geração de alunos que terá o poder de fazer as coisas de maneira diferente.

Habilidades de conservação e sustentabilidade deveriam ser uma aula ensinada em todos os currículos. Infelizmente, isso não acontece — e não temos tempo para voltar e correr atrás do prejuízo. Mesmo que tivéssemos, não deveríamos limitar esses tópicos a uma aula. Assim como o intrincado ecossistema em que operamos, não podemos isolar a “questão ambiental” como uma questão autônoma. O problema toca, afeta e impacta praticamente todos os aspectos de nossas vidas. Seja qual for o assunto, disciplina ou especialização, devemos ensinar habilidades de sustentabilidade aos alunos e modelar o comportamento que pode impactar a mudança. E como AJ Ayer apontou: “A menos que tenhamos uma palavra para alguma coisa, somos incapazes de concebê-la”. Os alunos precisam estar atentos para que possam entender suas próprias ações e impacto.

Conversei com muitos educadores e eles estão ansiosos para saber o que podem fazer para ajudar a equipar seus alunos com conhecimento, linguagem e habilidades a fim de participar de conversas globais e fazer parte da solução. Ao comemorarmos o Dia da Terra, gostaria de compartilhar algumas ideias para ensinar habilidades de sustentabilidade aos alunos.

Pensamento sistêmico

Essa teoria não é nova, por mais que se diga o contrário. É familiar para muitos cientistas. É a maneira de ver como as coisas se interconectam — a ideia de causa e efeito ampliada e levada à enésima potência. O tipo de pensamento que contempla quais podem ser os efeitos em cascata de uma solução. Às vezes, podemos estar tão focados em um resultado — melhores resultados, mais rápidos, com maior lucro — que ficamos cegos para a cascata de efeitos que ele tem em uma área completamente não intencional. E o efeito nem sempre é óbvio dentro do pequeno intervalo de foco que foi aplicado para encontrar uma solução para um problema específico. É o tipo de pensamento que atribui valor a coisas que antes não eram levadas em consideração porque o custo está em outro lugar.

Tomemos, por exemplo, o exemplo de lojas fast fashion. Quando precisamos de jeans novos, conseguimos o que é mais conveniente para nós ao melhor preço. Mas isso raramente leva em conta os custos ocultos de onde foi feito, como foi feito e quem o fez.

É por isso que as Metas de Sustentabilidade da ONU oferecem um dos roteiros mais realistas para melhorar nosso futuro. Com essa resolução, a ONU estabelece 17 objetivos para a alcançar um futuro sustentável. E, por causa da sua interdependência, todos devem ser abordados em conjunto para que qualquer um seja bem-sucedido. Não podemos alcançar o que precisamos em nossos ecossistemas se também não tentarmos combater a pobreza, lutar pela igualdade de gênero e promover o consumo responsável. Educação de qualidade e parcerias fortes são uma base crítica se quisermos resolver qualquer um desses problemas.

objetivos sustentáveis da ONU para o Brasil separados em dezessete quadros de cores variadas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Fonte: Nações Unidas Brasil, 2023, brasil.un.org/pt-br/sdgs

Em nossas aulas, devemos fazer referência a essa estrutura e sinalizar como as coisas se interconectam. Precisamos demonstrar como todos nós nos encaixamos em uma rede maior e mais complexa e quantos locais compõem o global. Muitas vezes, isso exige colaboração interdisciplinar e internacional. Acima de tudo, exige que tenhamos certeza de que os alunos estão fazendo as perguntas. Seu desafio como educadores é incentivá-los a seguir o fio para encontrar as soluções que tenham ondulações positivas em vez de negativas.

Resiliência

Para quem passou algum tempo estudando ou investigando a crise climática, a perda de biodiversidade e os desastres naturais causados pelo homem, há um claro caminho emocional. Esse caminho começa com a descrença, passa pela raiva e termina em um profundo mergulho no poço da impotência. É então que surgem as inevitáveis perguntas: “É tarde demais?” e “Devo me preocupar?”. Há uma tendência a dar de ombros e colocar tudo isso na pilha do “muito difícil”. Mas não é tarde demais, e nós devemos nos preocupar. Pode ser difícil, mas não muito. É por isso que precisamos ensinar os valores da resiliência aos nossos alunos.

Em nossas instituições, precisamos criar um ambiente onde os alunos sintam-se confortáveis com a possibilidade de não obter vitórias rápidas. Ensine-lhes que nem sempre vão acertar de primeira e que é preciso tentativa e erro para corrigir as coisas. Costumamos valorizar exames finais, e o aspecto “tudo ou nada” deles pode ser contrário a essa ideia de processo iterativo.

Pense nas aulas que você ministra. Você construiu um ambiente onde os alunos podem desenvolver resiliência diante do fato de não acertar da primeira vez? O fracasso é normalizado em suas aulas? Você valoriza tanto o processo quanto o resultado? Você mostra modelos que continuaram tentando alcançar seu objetivo final? Você fez desta citação de John Powell o seu lema de classe?

“O único erro real é aquele com o qual não aprendemos nada.”

Agindo

Quando começamos a ver nosso lugar em um ecossistema mais amplo, é impossível ver as questões climáticas e de sustentabilidade como algo que está acontecendo “lá” ou como algo separado do mundo em que operamos. Não somos espectadores passivos nessa crise. Embora seja importante entender os desafios que enfrentamos em relação ao futuro do nosso planeta, isso não significa nada, a menos que possamos fazer algo a respeito. Somos todos agentes de mudança e, como educadores, temos uma plataforma única para influenciar um impacto positivo.

É fácil nos vermos insignificantes demais para fazer a diferença, mas é aqui que devemos colocar nossa fé nos números e no efeito combinado de comportamentos e ações repetidos. Sim — sempre podemos reciclar, mas não podemos reciclar para sair dessa crise. Precisamos modificar nossos comportamentos e buscar um modelo mais cíclico do que a forma de consumir “produzir-usar-descartar”. A simples ação de usar uma garrafa de água recarregável todos os dias, trazer sua própria xícara de café ou consertar uma camisa rasgada tem um efeito cumulativo. Depois de um ano, você evitou que centenas de garrafas e copos de café descartáveis entrassem no sistema de lixo e acabassem em nossos oceanos. E se uma turma de dez fizer a mesma coisa, de repente você terá milhares de plásticos descartáveis sendo removidos do sistema.

Ações simples multiplicadas continuamente podem fazer mudanças em grande escala.

Devemos lembrar também que nosso maior poder está em nossas carteiras e em quem colocamos no poder. As empresas responderão às demandas do mercado. Portanto, se nós, como base de consumidores, rejeitarmos plásticos de uso único, fast fashion prejudicial ou alimentos que viajaram quilômetros até nossos pratos, o mercado responderá. Trata-se de garantir que nossos alunos estejam fazendo as perguntas-chave. De onde veio isso? Quem fez isso? O que acontece com isso depois que eu o usar ou consumir?

Você tem o poder de influenciar grandes mudanças. Isso pode significar desenvolver esse processo crítico de investigação, construir a resiliência para perseverar e superar ou fazer uma promessa de classe para fazer uma simples mudança reiterada ao longo do ano.

Então, qual será sua ação?

 

Ensinar habilidades comportamentais irá preparar seus alunos para o sucesso em seus outros cursos, suas carreiras e suas vidas em geral. Baixe nossa lista gratuita de sugestões, “7 dicas para ensinar as habilidades interpessoais que os empregadores desejam” para saber como você pode começar.

 

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Charlotte Ellis estudou no Cambridge Institute of Sustainable Leadership e é uma das líderes do Cengage Green Employee Research Group, além de diretora de marketing estratégico na National Geographic Learning EMEA. Artigo adaptado e traduzido pela Cengage Brasil. Texto original pode ser lido aqui.